Pérolas no Mar não é um filme sobre a descoberta do amor, mas sobre o que faz um findar. Aí reside seu primeiro despertar de curiosidade.
Acompanhamos o casal Jianquing (Jing Boran) e XiaoXiao (Zhou Dongyu) que se reencontram quando o avião onde estão encontra um problema ao decolar anos após o término de seu relacionamento. Sem possibilidade de retomarem a viagem para seus destinos, os dois resolvem passar a noite juntos em um hotel e começam a relembrar seu namoro, como se aproximaram e, por fim, se afastaram.
A narrativa é fragmentada entre presente e passado onde, a cada passo, vamos aprofundando mais e mais em descobrir não apenas o que houve entre os dois, mas como se separaram e, acima de tudo, quem são hoje e se terão ainda espaço na vida um do outro.
Assim, chegamos a ponto central do discurso da produção. Embora poético e indelevelmente ligado a uma parte central da narrativa do casal, o nome do filme em português não tem o alcance do original, 后来的我们, Quem seremos, ou como foi traduzido em inglês, Us and Them, Nós e Eles. Enquanto no primeiro fica claro em seu significado, a quem se refere o segundo? Num elenco composto basicamente por 3 personagens, o casal e o pai do rapaz, trata-se dos próprios Jian e Xiaoxiao, quem são hoje ("nós") e quem foram ontem ("eles"). O que os dois tem a dizer um para o outro no seu presente, o que se disseram no passado e, principalmente, o que seus "eus" passados tem a dizer para quem são hoje.
A direção de Rene Liu é extremamente feliz não apenas na condução de Jing Boran e Zhou Dongyu, como na escolha de uma paleta de cores diferenciada para mostrar passado e presenteo: aquele colorido, este preto e branco. O que pode ser entendido apenas como uma escolha estética guarda em si uma pungente surpresa.
Jing e Dongyu por outro lado se erguem como expoentes grande de sua geração de atores: a imersão dos dois aos papéis é total e o trabalho dos dois é um dos grandes responsáveis pela verossimilidade de toda história. Espontâneos e carismáticos, além de contar com uma naturalidade incrível na química entre os dois, tornam Jian e Xiaoxiao um dos casais mais realistas do cinema moderno.
Jing e Dongyu por outro lado se erguem como expoentes grande de sua geração de atores: a imersão dos dois aos papéis é total e o trabalho dos dois é um dos grandes responsáveis pela verossimilidade de toda história. Espontâneos e carismáticos, além de contar com uma naturalidade incrível na química entre os dois, tornam Jian e Xiaoxiao um dos casais mais realistas do cinema moderno.
Atual, o roteiro também brilha ao trazer questões pertinentes aos relacionamentos modernos, onde os casais não passam apenas pelos usuais problemas de eventuais investidas de assédio no trabalho, mas também em ambientes virtuais como chats e jogos.
É um filme amargamente belo e necessário para uma sociedade ocidental cada vez mais hedonista, cujo conceito de felicidade é a autorrealização e se fundamenta ou na existência de amores transitórios - satisfazendo necessidades básicas do momento -, ou a busca daqueles perenes, "até a morte", numa cadeia sucessiva de decepções. Sobretudo, ele discute o que se fazer com os grandes amores cuja própria existência se encarrega de afastar, com mudanças de ambições, necessidades, amadurecimento pessoais, mas cujos corações continuam atados em tantos "ses", ponto aliás responsável por uma das mais belas cenas do longa, o qual, como seus protagonistas, flerta com o belo e trágico, sem incorrer na pieguice ou no melodrama barato.
Vale a pena esperar os créditos avançarem pois há dois momentos especiais: o fechamento para uma das tramas e a colagem com cenas de vários anônimos nas ruas mandando mensagens diversas para grandes amores de seus passados, desde insultos até mensagens de amor, agradecimentos e felicidades. Cada um, um Jian e uma Xiaoxiao, muito provavelmente como cada um de nós.
Assista, é um filme espetacular demais para ser ignorado por qualquer pessoa. Disponível no Netflix.
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