[CINEMA] BABAM VE OGLUM

Em 12 de setembro de 1980 da era comum, um golpe de estado foi dado na Turquia. Durante a noite, não apenas a política acontecia, mas também uma pequena tragédia familiar: Sadik, um jornalista, viu-se às voltas com a esposa entrando em trabalho de parto e, sem ajuda nas ruas para chegar a um hospital, a mulher acabou falecendo após dar à luz ao filho deles.


Alguns anos se passam em rápida sequência. Sadik é preso, torturado e libertado pelo governo, decidindo depois voltar ao interior. É quando descobrirmos que ele tomou todas as escolhas possíveis na juventude que o afastaram de seus pais, família e raízes na fazenda onde cresceu. A volta para a casa ao lado do filho e o reencontro com o pai, amargurado e decepcionado com as decisões tomadas pelo homem, marcará para sempre a vida das três gerações.

É justamente esta a premissa implícita no nome da produção, traduzido como "meu pai e meu filho": Sadik encontra-se entre os dois, avô e neto, é a ponte destruída no meio das duas gerações tentando traçar vínculos ou restabelecer alguns, sendo sucedido e fracassado.

A qualidade mais encantadora do filme é abordar de forma bastante feliz o universo de três homens em idades diferentes: a velhice, a maturidade e a infância, cada um com seus sonhos, expectativas, dores e alegrias.

Fikret Kuşkan dá vida a um Sadik que tenta juntar os pedaços de sua vida, desfazendo erros de juventude e preparando caminho para que o filho possa ter uma existência melhor, ou antes mais plena, que a sua. É um tema universal com o qual qualquer homem pode se relacionar. Çetin Tekindor é a verdadeira estrela, dando um show como o velho Houssein, um homem cuja única infelicidade numa vida cheia de tranquilidades e alegrias como fazendeiro foi ver o filho ir embora e buscar uma realidade diferente da sua. Ambos são, ao lado da história em si, responsáveis por enobrecer a experiência da produção como arte. Arte pura e lapidada.


O problema fica por conta do menino Deniz, vivido por Ege Tanman, e sua trajetória. Enquanto as tramas do avô e do pai são muito bem desenvolvidas, a forma como a do o garoto é apresentada e as escolhas criativas envolvendo-a, tal como a forma pela qual ele enxerga a realidade, acabam prejudicando sensivelmente muitas cenas e o próprio ritmo da história, fato potencializado pelas limitadíssimas habilidades de atuação do ator-mirim. Alguns momentos são constrangedores e destoam tanto do restante que alguém pode se perguntar se o editor do filme não cometeu um erro e juntou pedaços de outra produção a esta.

A direção de Çağan Irmak, responsável também pela história, acaba deslizando nos mesmos problemas encontrados no roteiro. É incrivelmente madura e bem planejada em sua maior parte, mas em outras escorrega num certo amadorismo televisivo que incomoda.

Dentre os pontos positivos, há ainda a menção honrosa à mãe/avó interpretada com uma incrível jovialidade e alegria por Hümeyra.

E como não elogiar a trilha de Evantia Reboutsika? A compositora grega responsável pelas trilhas de várias produções em seu país e na Turquia dá um verdadeiro show aqui, em especial na faica "We Will Meet Again", já uma de suas peças mais famosas. Confira abaixo.


Assim como Sadik, Babam ve Oglum acaba se mostrando uma produção fraccionada entre dois mundo: é adulto e maduro ou uma exploração da vida pelos olhos de uma criança? É um drama sincero ou escorrega no (mau) melodrama?

O simples fato de não tentar ao menos achar um meio termo ou norte satisfatório para si acaba prejudicando o que, com melhores decisões criativas, teria sindo uma pequena obra-prima. No fim, é apenas um filme mediano com momentos aqui e ali de brilhantismo pontuados por ocasionais diálogos incríveis e cuja conferência vale para aqueles buscando boas peças do cinema mundial moderno.

A ótima notícia é que a produtora Avşar Film disponibilizou não só Babam ve Oglum como praticamente toda sua filmoteca online no Youtube e você pode conferir o filme totalmente legendado em inglês abaixo. Aproveite!



0 comentários:

Postar um comentário

 
Formado em Design Gráfico pela UEMG, apaixonado por História, Sociologia, Literatura, Filosofia, sociedades orientais, culturas antigas e cinema asiático.

Meus hobbies são leitura, escrever, games, desenhar e colecionismo (livros, filmes, quadrinhos, figuras de ação, dvds etc). Também possuo um blog dedicado ao Superman, o Kryptonauta.

Mais sobre mim aqui.