[CINEMA] X-MEN: APOCALIPSE

Uma espera de 16 anos terminou hoje: a Fox, finalmente, entregou um filme dos X-Men capaz de agradar a maioria esmagadora de seus fãs. Entre acertos e erros, desde 2000 o estúdio vem experimentando com os heróis mutantes da Marvel obtendo níveis variados de sucesso, desde o ótimo X-Men 2 até o sofrível X-Men Origins: Wolverine.

A franquia voltou aos trilhos com o excelente Primeira Classe (2011) e manteve o ritmo acertado com Dias de Um Futuro Esquecido (2014, confira o review deste blog aqui), mas X-Men: Apocalipse ultrapassa qualquer um deles e, enfim, eleva os filmes dos mutantes a um patamar novo. Mesmo com os acertos do passado, as demais produções deixavam aquela impressão geral de que a Fox tinha vergonha de apresentar suas produções como filmes de super-heróis, preferindo enveredar, no tom, pela ficção científica, razão pela qual, por exemplo, evitavam constantemente apresentar Ciclope, Nortuno e companhia com seus uniformes coloridos dos quadrinhos ou manter seus poderes em níveis mais aceitáveis.

Mas isto, até certo ponto, terminou. Provavelmente impulsionados pelo sucesso da Marvel com suas outras franquias no cinema e na TV, a Fox se sentiu à vontade para ir abraçando, desde Primeira Classe, as raízes dos X-Men como personagens de quadrinhos e Apocalipse é a culminação deste processo: das roupas até a escalada do uso de poderes (e destruição), os elementos do filme, enfim, parecem saídos das revistas.

Primeiro, se você viu as críticas mornas que saíram há alguns dias, não se deixe desanimar. É possível que elas tenham se dado pelo filme ter saído após duas produções de peso: Batman vs. Superman - A Origem da Justiça e Capitão América: Guerra Civil. O primeiro deixou uma impressão péssima na crítica geral enquanto o segundo foi bastante elogiado. Fato é que Apocalipse é um filme menor em escopo do que ambos e isto, talvez, tenha rendido um certo sentimento de espectativa não alcançada junto a alguns críticos, mas não se deixe influenciar: é, de fato, o melhor longa dos mutantes no cinema até hoje.

A história em torno de citado Apocalipse, o primeiro mutante nascido milênios atrás, um ser imenso poder capaz de transferir sua mente para outros corpos, prolongando sua vida e acumulando assim um número espetacular de habilidades que superam qualquer mutante vivo no planeta. Traído por seus subjugados ainda na Antiguidade, ele passa mais de 5000 anos soterrado. Ao acordar em 1983, época em que o filme se passa, ele rotoma sua agenda de deixar apenas os mais fortes vivos e começa dizimando arsenais atômicos e até uma cidade inteira, além de aliciar seus quatro aliados: Magneto, Psylock, Anjo e Tempestade.

É a chegada deste ser de imenso poder que põe em xeque a convivência relativamente harmônica entre humanos e mutantes construída desde os eventos de Dias de um Futuro Esquecido, ocorridos 10 anos atrás, em 1973. Entram em cena o professor Xavier e seus alunos, os únicos capaz de impedir que Apocalipse imponha sua visão mundo à humanidade.

O filme é absurdamente repleto de referências para quem conhece os quadrinhos, incluindo desde pequenas citações até sequências inteiras que farão os mais empolgados pular da cadeira. O diretor é novamente Bryan Singer que agora se mostra bem menos contido ao mostrar a extensão dos poderes de seus personagens do que seu eu de 2000, quando dirigiu o primeiro X-Men.

James McAvoy e Michael Fassbender novamente brilham como o professor Charles Xavier e Eric Lehnsherr (Magneto). Os dois retomam sua amizade tumultuada, agora contando com a volta de Rose Byrne como Moira MacTargget. Impulsionado pelo sucesso em outras produções como a cinesérie Jogos Vorazes, Jennifer Lawrence tem seu papel como Mística ainda expandido, mas há lugar para os demais mutantes se destacarem. Aliás, um dos pontos mais positivos do roteiro é justamente como os autores Simon Kinberg, Bryan Singer, Dan Harris e Michael Dougherty souberam dar a seus personagens o devido tempo para o público gostar de cada um deles, mesmo as presenças rápidas e pouco marcantes como o Anjo (Ben Hardy) tem seu momento.


Também se destacam o Ciclope de Tye Sheridan quem aqui faz o papel de novato na escola (ao menos, num primeiro momento) tal como a Vampira de Ana Paquin no primeiro filme em 2000, além da Jean Grey de Sophie Turner e do Noturno de Kodi Smit-McPhee. O Mércurio de Evan Peters novamente tem seu momento espetacular e cômico, mas ganha mais espaço para viver seu próprio drama particular enquanto Olivia Munn, mesmo com poucas falas, encanta com sua beleza no papel da letal Psylock. O elo fraco é realmente Alexandra Shipp responsável por entregar uma performance caricata de Tempestade mesmo com o pouco tempo de cena.


Mas o grande unificador destas ótimas atuações é realmente Oscar Isaac como o vilão Apocalipse, aliás, uma surpresa. Ele está absolutamente fantástico, assustador e poderoso e passa aquela rara noção vista hoje no cinema de se ter um vilão aparentemente invencível, algo experimentado por Darth Vader em O Império Contra-Ataca. Não é possível deixar de pensar que a Fox tenha dado um tiro no pé com ele: após uma ameaça tão grande e de uma performance tão espetacular de seu intérprete, quem eles podem colocar como próximo antagonista? A resposta pode estar nas cenas pós-créditos, mas fica a dúvida se o vilão ali citado realmente seria uma ameaça do porte desta vista aqui responsável por algumas das cenas mais incríveis vistas nos filmes dos X-Men até agora.

O roteiro tem um ou outro ponto que deixa em aberto ou (não) explica de forma satisfatória como a transição de Mística da responsável por prender Wolverine no final do último para a heróina rebelde vista aqui como apontou meu amigo Artur Lins (ainda que possamos abstrair qualquer explicação, afinal 10 anos se passaram), mas são pequenos problemas que não chegam a atrapalhar nem a diversão, nem a privar o longa de receber os devidos parabéns pelos outros demais e muitos acertos.

X-Men: Apocalipse é, portanto, um filme capaz de agradar tanto os fãs de longa data quanto aqueles que, impulsionados pela febre das adaptações dos quadrinhos para o cinema, estão em busca de mais uma diversão nos mesmos moldes. Com uma ótima direção, elenco acima da média e uma história que é praticamente uma aventura dos mutantes saída diretamente dos quadrinhos dos anos 90 para as telas, a trama é a jornada mais honesta deles pelas telas do cinema até hoje e merece sua presença. Vá mais rápido do que Mercúrio conferir.

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Formado em Design Gráfico pela UEMG, apaixonado por História, Sociologia, Literatura, Filosofia, sociedades orientais, culturas antigas e cinema asiático.

Meus hobbies são leitura, escrever, games, desenhar e colecionismo (livros, filmes, quadrinhos, figuras de ação, dvds etc). Também possuo um blog dedicado ao Superman, o Kryptonauta.

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