RELEMBRANDO "SOMBRAS DO IMPÉRIO" E OS 20 ANOS DE STAR WARS

Há muito, muito tempo atrás...

Quando Star Wars ainda era Guerra nas Estrelas no Brasil e apenas os fãs mantinham vivo o interesse pela franquia, ela completou 20 anos desde o lançamento do episódio IV, Uma Nova Esperança, nos cinemas. Era o ano de 1997 e a Lucasfilm, então proprietária da marca, resolveu fazer uma mega-celebração multimídia para comemorar a data.

Fonte: StarWarsZ

Apesar de já saírem materias adicionais com Luke, Han, Leia e os demais personagens em formatos de livros e quadrinhos desde 1976, foi apenas na segunda metade dos anos 90 que Lucas começou a estruturar um cânone oficial unificando os livros a romances e quadrinhos criando o chamado Universo Expandido (UE) e, nesta consolidação, duas obras foram decisivas: os romances da trilogia de Thrawn - lançados respectivamente em 1991, 92 e 93 - escritas por Thimoty Zhan e a mini-série  em quadrinhos Império Sombrio (1991-92) com roteiro de Tom Veitch e arte de Cam Kennedy. Foram Estes trabalhos que cimentaram a idéia da história mostrada nos 3 filmes da trilogia clássicas se expandirem além das telas e deste material possuir um nível canônico, ou seja, eram considerados continuações e prequelas oficiais.

Sombras do Império entra justamente aqui. Na época, a Lucasfilm já tinha uma consolidada parceria com a editora de quadrinhos Dark Horse além de seu próprio estúdio de games, a LucasArts. A idéia era criar uma aventura multimídia que se expandisse por livros, quadrinhos, jogos eletrônicos e o que mais fosse possível.

Ficou decidido que ela focaria num período de tempo tumultuado para os rebeldes. As séries de livros e quadrinhos citados acima tinham se dedicado a mostrar a realidade após a Batalha de Endor em O Retorno de Jedi e, durante os 9 anos seguintes, focaram em como a Rebelião se tornou a Nova República, o retorno de Palpatine, o confronto com o grande almirante Thrawn etc ou seja, o período pós-filmes já estava bem mapeado e enriquecido.

George Lucas resolveu então focar num espaço de tempo onde a imaginação dos fãs encontrava ainda um ponto fértil para conjecturas: entre O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi. Por que? Basicamente, havia muitas incógnitas neste ínterim, por exemplo: onde Luke Skywalker aprendeu a construir um novo sabre-de-luz? Como ele se transformou daquele aprendiz mutilado e ferido emocionalmente do final de O Império no cavaleiro jedi seguro e poderoso do começo de O Retorno se ele retorna para terminar seu treinamento com Yoda durante o então último filme? Sombras do Império vinha justamente responder estas e outras perguntas.

O INIMIGO DE MEU INIMIGO...

A trama começa com os rebeldes tentando se reestruturar após as duras vitórias do Império que resultaram na destruição da base em Hoth e a captura do capitão Han Solo. Luke Skywalker se recupera de sua mutilação por parte de Darth Vader enquanto duelavam com sabres-de-luz na cidade de Bespin ao mesmo tempo onde busca lidar com a revelação de que o vilão pode ser seu pai biológico.

Enquanto Luke vai a Tatooine visitar a cabana de Obi-Wan em busca de qualquer informação que possa ajudá-lo no seu treinamento, Lando, Leia e Chewbacca se unem a outro contrabandista espacial, Dash Rendar, na corrida para resgatar Han solo. Assim como Solo, Rendar tem uma nave, a Outrider, e um parceiro droid, LE-BO2D9, chamado de Leebo.

Dash Rendar e LE-BO2D9
Fonte: Wookiepedia

Mas o Império também passa por problemas, afinal, a saga não se chama Sombras do Império à toa. Um de seus focos principais é justamente abordar o submundo do universo de Star Wars e como tantos rebeldes quanto o governo imperial lidavam com gangstêrs.

Entre os diversos grupos de crime organizado, o maior é o Sol Negro cujo líder é o príncipe Xizor. Pertencente a uma espécie reptiliana, ele é capaz de metabolizar estimulantes olfativos capaz de induzir as pessoas a obedecerem suas ordens. Ao seu lado, há Guri, uma androide avançadíssima e letal.

Xizor, o antagonista de Sombras do Império.
Fonte: Overmental
Um dos grandes acertos da trama está em não apenas colocar de novo a rebelião contra o Império, mas em fornecer um inimigo comum aos dois na figura de Xizor. É ele quem busca ocupar o lugar de Vader ao lado do imperador e, para tanto, tenta desgraça-lo através de várias manobras envolvendo, inclusive, matar Luke.

Em 1997, Darth Vader há muito já havia alçado a categoria de ser um vilão amado pela audiência e Sombras dá a ele a oportunidade de, à sua maneira, lutar contra um adversário, proporcionando aos fãs a oportunidade de também torcer por ele.

O grande maestro da saga foi o escritor Steve Perry, quem escreveu o romance. Ali está o alicerce de Sombras do Império.



A Dark Horse lançou também uma mini-série em quadrinhos e a LucasArts, um game, mas diferente do que se pode pensar, estes dois últimos não são adaptações do livro para suas respectivas mídias, mas focam em partes diferentes da trama que ele apenas superficialmente explora: os quadrinhos focam na viagem de Boba para Tatooine enquanto luta contra outros caçadores de recompensas que buscam roubar dele o corpo de Solo e clamar a recompensa de Jabba.


Já o game foca nas aventuras de Dash Rendar, envolvendo sua participação na batalha de Hoth no começo de O Império Contra-Ataca onde ficamos sabendo que ele fazia parte da equipe de rebeldes escondidas no planeta gelado. Lançado para várias plataformas na época, algo ainda pouco usual, incluindo versões para PC e Nintendo64.

TRILHA SONORA

Sombras do Império acabou estrapolando em muito os projetos ambiciosos da Lucasfilm ao ganhar uma trilha sonora própria com tratamento de cinema. O compositor Joel McNeely trabalhou em 10 faixas para o livro (fonte: Wookiepedia).

  1. Main Theme from Star Wars and Leia's Nightmare (3:41)
  2. The Battle of Gall (7:59)
  3. Imperial City (8:02)
  4. Beggar's Canyon Chase (2:56)
  5. The Southern Underground (1:48)
  6. Xizor's Theme (4:35)
  7. The Seduction of Princess Leia (3:38)
  8. Night Skies (4:17)
  9. Into the Sewers (2:55)
  10. The Destruction of Xizor's Palace (10:44)
    (fonte: Wookiepedia)

FIGURAS DE AÇÃO

Em 1996, a Kenner voltou a lançar linhas de bonecos baseados em Star Wars. A linha foi chamada de Power of the Force 2, em homenagem à Power of the Force original lançada em 1977. Quando Sombras do Império saiu, a empresa lançou uma série (wave) exclusiva com figuras temáticas da história.

A linha tinha:
- Luke disfarçado como guarda de Coruscan;
- Dash Renda;
- Xizor;
- Chewbacca disfarçado como caçador de recompensas;
- Leia disfarçada como Boushh.

Embalagens duplas com figuras em combate:
- Darth Vader vs. Xizor;
- Bobba Fett vs. IG-88.

Além de uma nave exclusiva, a Outrider de Dash, a Slave I de Bobba Fett e um box com uma moto swoop e um motoqueiro.

O site RebelScum, a melhor referência para figuras de ação de Star Wars na net, tem uma incrível seção dedicada às figuras de Sombras do Império aqui.

NO BRASIL

O livro Sombras do Império foi editado pela primeira vez no Brasil em 2000 pela editora Sci-Fi Books. Recentemente, ele ganhou uma reedição pela Editora Aleph. A primeira pode ser encontrada em sebos e leilões virtuais enquanto a segunda está disponível em livrarias físicas ou virtuais.

Já os quadrinhos ganharam sua primeira impressão aqui nos últimos meses quando saiu como parte da coleção de graphic novels lançada pela Planeta DiAgostini na edição 39, a qual compila em único volume as edições lançadas pela Dark Horse em 1997.

VEREDITO

Sombras do Império não faz mais parte do cânone oficial desde 2014 quando a Disney anulou o antigo Universo Expandido, mas pontos de sua trama vem sendo revisitados, ainda que em ordem cronológica diferente daquela mostrada aqui. Por exemplo, no título Star Wars, Luke visita a cabana de Obi-Wan, mas agora entre o episódio IV e V. Lá ele também encontra o antigo diário de seu mestre, mas não há, até o momento, nenhuma instrução ali de como construir um sabre (até porque, naquele momento, Luke ainda tinha o de Anakin). O Sol Negro ainda existe e é citado em outras fontes. Xizor aparece de maneira não credita na série animada Clone Wars e em Darth Maul - Filho de Dathomir, editado no Brasil pela Panini.

Independente de estar ou não dentro do cânone reconhecido pela Disney, o livro de Steve Perry figura entre uma das melhores aventuras estreladas pelos personagens da trilogia clássica fora das telas, além das excelentes adições de Xizor e Dash Rendar, ainda que este último vez por outra soe bastante como Han Solo, fazendo até suas vezes como o membro sarcástico e durão da equipe. Os quadrinhos são mais passáveis e vão agradar mais os fãs de Bobba Fett, mas no grande esquema, figuram como mais dispensáveis. As figuras da Kenner continuam sensacionais, ainda mais agora que a empresa voltou a diminuir o número de articulações em seus bonecos ao número em que possuíam aqui. O game, se você não jogou na época, pode soar incrivelmente datado pelos gráficos e a trilha é uma bela adição para qualquer colecionador de Star Wars.

Seja como for, se você até hoje não teve contato com Sombras do Império, corra e vá conhecer este incrível capítulo na história de Star Wars.

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Formado em Design Gráfico pela UEMG, apaixonado por História, Sociologia, Literatura, Filosofia, sociedades orientais, culturas antigas e cinema asiático.

Meus hobbies são leitura, escrever, games, desenhar e colecionismo (livros, filmes, quadrinhos, figuras de ação, dvds etc). Também possuo um blog dedicado ao Superman, o Kryptonauta.

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