O mundo das bilheterias
não é justo. Aliás, tem sido bastante padrasto com ótimas produções como
Blade Runner 2049. O novo na fila da cinta é Solo - Uma História Star Wars, um filme tumultuado e
cheio de problemas desde o início, mas cujo
resultado é incrivelmente satisfatório seja como cinema,
seja como mais um volume na franquia de Star Wars, mas cujo resultado na estreia foi pífio e amarga agora não apenas o posto de pior bilheteria da série, como um enorme bomba, rendendo alguns milhões em prejuízos para os cofres da Disney.
Aqui reside a injustiça da vez: depois do medíocre e detestável Star Wars Episódio VIII - Os Últimos Jedi, Solo vem mostrar como um filme da série Star Wars deve ser: divertido, despretensioso, aventuresco e, sim, um tanto pretensioso, mas de bom coração como seu pirata protagonista.
Aqui reside a injustiça da vez: depois do medíocre e detestável Star Wars Episódio VIII - Os Últimos Jedi, Solo vem mostrar como um filme da série Star Wars deve ser: divertido, despretensioso, aventuresco e, sim, um tanto pretensioso, mas de bom coração como seu pirata protagonista.
Solo aliás faz pareia com outro filme de Star Wars recente: Rouge One (confira a resenha aqui). Ambos
dividem a troca de diretores, mudança de rumos,
refilmagens e todos os ingredientes de uma produção caótica, mas,
enquanto o primeiro conseguiu cair no gosto popular pegando força no vácuo deixando pelo episódio VII, O Despertar da Força, o filme sobre o personagem originalmente vivido por Harrison Ford na trilogi original – e aqui
concordo com a análise de meu amigo Alexandre Nunes – acabou colhendo o
amago descontentamento gerado por Os Últimos Jedi. Ainda sendo responsável por uma gorda receita para a Disney, o episódio VIII acabou sendo um desastre entre os fãs e o saldo negativo começa a ser colhido: Solo não apenas foi a mais baixa bilheteria de um filme de Star Wars em sua estreia como também já foi classificado como uma bomba, tendo gerando um prejuízo milionário para a Disney.
E chegamos ao principal: ele merece uma recepção tão amarga? É tudo tão ruim, pobre e medíocre como Os Últimos Jedi? A produção caótica gerou um monstro ainda mais remendado do que Rouge One? A resposta para todas as perguntas é um "não", ora murmurado, ora mais exaltado.
Em
alguns pontos, ele se sai até melhor do que o já citado Rouge One por exemplo, um filme
nitidamente costurado e truncado em sua primeira metade, salvo na mesa de operação pela mão, dentre outros, do cineasta e fanboy em tempo integral Kevin Smith. Solo apresenta
uma trama linerar e sem grandes pretenções, descomplicada e focada em
mostrar o submundo da galáxia formado por párias, saqueadores, piratas,
contrabandistas, jogadores… Bem ao gosto do que pode ser encontrado em
qualquer livro ou quadrinhos de Star Wars e acaba resgatando algo do
espírito do episódio IV. Não há o que criticar nos atores também: até
Emilia Clark está bonita e suportável.
A direção de Howard é o arroz com
feijão de sempre, mas arroz com feijão é uma iguaria depois de saborear
o húmus que é Os Últimos Jedi. Visual e narrativamente, o filme flerta
com O Império Contra-Ataca reutilizando até aparelhos como binóculos e batalhas na neve, além da parceria com o personagem de Lando Calrissian (vivido aqui pelo ótimo Donald Glover, o Childish Gambino) assim como
as usuais referências e não à toa: de todos da trilogia clássica, é onde
Han Solo realmente brilha, nada mais natural então do que buscar nele inspirações, mas ainda há pontes ligando a fatos vistos em O Retorno de Jedi e até Uma Nova Esperança, além do próprio causador de sua ruín, o infame Os Últimos Jedi (aqui, você precisará de um pouco de atenção).
Há
outro ponto em que o filme realmente brilha: ele é, de todos os
feitos pela Disney, aquele que mais prestou homenagem ao universo
expandido de Star Wars, indo buscar até em livros do final dos anos 70 a
figura de Han como um ex-imperial. Há inúmeras pequenas referências que
só os mais aficcionados vão pegar como a arte marcial Teräs Käsi, a
qual até figurou em um game próprio nos anos 90. É um deleite sair
caçando estes detalhes aqui e ali quando se percebe que o roteirista
Lawrence Kasdan, responsável aliás por trabalhar o personagem de Solo em
O Império..., salpicou eles pela trama. A participação especial secreta
do filme liga de forma absurdo o universo do filme com aquele visto em
animações, quadrinhos e livros. Sente-se firme na cadeira sobre o risco de
pular como eu fiz.
Nâo
é um filme impecável, não será uma jóia perdida do cinema, tem alguns
personagens irritantes e caricatos como o de Paul Bethany, mas é Star
Wars e isso significa ser sensacional e piegas ao mesmo tempo,
conseguindo de uma forma impensável ser uma ótima distração para todas
as idades. Se o tom dos elogios foi um pouco elevado nesta resenha, é por se tratar de uma tentativa de realmente dar crédito a uma obra injustiçada pelos erros não apenas de outra anterior, mas das pessoas responsáveis pela franquia, a começar por Kathleen Kennedy, a executiva indicada pelo próprio George Lucas quando vendeu a série para a Disney para cuidar de todas as produções relativas a ela.
O
problema de agora em diante é se, diferente do visto em Uma Nova Esperança quando Han
chega e praticamente salva o dia possibilitando Luke destruir a estrela
da morte, seu filme tenha chegado tarde demais para resgatar o interesse
dos fãs depois de um desastre sobre trilhos que foi o episódio VIII. Ao
menos por enquanto. Star Wars agoniza na mesa de cirurgia embora Solo tenha mostrado o quão divertido ela pode ser.
Não esqueça: Han atira primeiro. O filme te lembrará isso.
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