O grande sucesso de Dança com Lobos em 1991 ao lado de outros westerns como Os Imperdoáveis alavancaram uma tímida retomada do cinema de faroeste na década de 90 e uma destas produções foi justamente uma nova versão de um verdadeiro clássico da literatura norte-americana: O Último dos Moicanos.
Escrito originalmente por James Fanimore Cooper, o livro foi editado pela primeira em 1826 e não saiu mais de circulação. Era uma das leituras obrigatórias de jovens rapazes nos Estados Unidos e inclusive no Brasil até mais ou menos a metade do século XX da era comum e já havia ganho versões no cinema, tv, quadrinhos e outras mídias. Como eu disse, um verdadeiro clássico.
A produção que chegou às telas no final de 1992 (começo de 1993 no Brasil) tomava algumas liberdades com a história original. Dirigido por Michael Mann, um diretor vindo do universo dos videosclips, o filme se passa no período durante as guerras coloniais travadas pela Inglaterra e a França e é estrelado por Daniel Day-Lewis no papel de Nathaniel Poe, um homem branco, mas criado por índios moicanos e conhecido popularmente por seu nome indígena, Hawkeye (Olho-de-Falcão). Junto a seu pai adotivo, Chingachgook (Russel Means) e o filho deste, Uncas (Eric Schweig), os últimos remanescente de uma tribo de moicanos dizimada, Nathaniel está se dirigindo para a fronteira a fim de poderem casar Uncas e assim perpetrar a linhagem da tribo.
Tudo muda quando eles salvam um oficial britânico (Steven Waddington) e duas jovens, Cora (Madeleine Stowe) e Alice (Jodhi May) de um ataque de outra tribo, os hurons. A partir daí, o trio se envolve na missão de se desviar da rota e levar os sobreviventes ao forte onde o pai das garotas, o coronel Edmund Munro (Maurice Roëves), está alocado com suas tropas, mas o grupo sofre a implacável perseguição de Magua (Wes Studi).
Sucesso em sua época, o filme fez por merece cada cifrão gasto em sua produção e depois arrecadado na bilheteria: é simplesmente um espetáculo em vários sentidos, do visual até a direção de arte, tudo embalado por uma trilha absolutamente magistral assinada por Trevor Jones e Randy Edelman.
A direção rápida e empolgante de Michael Mann é excelente e, mesmo sendo um novato até então no cinema de longas-metragens, ele dá um show na montagem das cenas, sabendo usar como ninguém certos enquadramentos, especialmente nas cenas de ação, as quais nunca confundem o espectador, além de utilizar com uma discrição e precisão ímpar o uso de câmera lenta. Peter Jackson poderia muito bem ter tido uma aula com ele sobre estes dois últimos quesitos.
O filme é daqueles raros casos onde absolutamente todos os atores, dos principais aos coadjuvantes, estão nos papéis certos e dando um show particular tornando cada personagem único. Sim, Daniel Day-Lewis se destaca como Hawkeye, assim como a doce, mas forte beleza da Cora de Medeleine Stone, mas se há um ladrão de cena, é Wes Studi no papel do vingativo e cruel Magua: ele consegue com maestria fazer o público odiá-lo ao apresentar um homem destroçado pelo rancor e cujo único caminho o qual sabe caminhar é o da destruição. Mesmo Jodhi May, cuja Alice tem um papel bem mais tímido, tem seu momento de destaque.
Mas não se engane, o filme não é propriamente um western, nem um filme de ação. Ele pode muito ser enquadrado num drama histórico e aqui se sai muito bem, até pela trama lidar com a possibilidade da extinção de uma tribo inteira e o desaparecimento de sua história, afinal é sobre um último dos moicanos, mas ela também avança em abordar a devastação causada pela chegada dos brancos com suas guerras nas sociedades indígenas da época, onde cada tribo buscava ser recrutada por um dos lados europeus. Há momentos incrivelmente belos assim como devastadores, incluindo aqui a sequência final onde a faixa Promontory explode num clímax simplesmente arrebatador. É a melhor sequência final do cinema norte-americano dos anos 90 e uma das melhores de todos os tempos. Se quiser conhecer mais sobre esta música, fiz um artigo sobre ela aqui. Leitura recomendada.
Entre todos os filmes produzidos sobre a história das américas no período colonial, O Último dos Moicanos se destaca como um daqueles que você deve assistir na primeira oportunidade, mas também se você gosta de dramas, produções histórias, dramas de época e até romance. Prepare-se para viajar no tempo e por suas emoções.
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