E por que falar sobre Promontory?
Muito simples, esta composição na verdade guarda uma série de curiosidades em torno de si. Mas primeiro, devo levar em consideração o fato de alguns de vocês não conhecerem a faixa, então vamos a ela.
Absurdamente linda, não? Eu sei. Promontory foi escrita por Trevor Jones e Randy Edelman. A versão acima é a do cd da trilha sonora original e foi conduzida por Daniel A. Carlin e pelo próprio Randy Edelman.
Promontory é tocada no clímax do filme, aliás uma das melhores sequências finais do cinema dos anos 90. Além disso, alguns acordes foram usados de forma incidental em outra faixa chamada The Kiss, mas apenas é no desfecho onde ela explode em toda sua maravilha. É possível encontrar no youtube a cena, mas recomendo a todos assistirem o filme se ainda não o fizeram: é um espetáculo visual e de reconstrução de época, apesar de divergir em vários pontos do livro no qual se baseia.
Mas voltando a Promontory, se você conhece um pouco sobre composições de outras partes do mundo, notou com certeza uma certa harmonia celta em alguns acordes. Isto não é à toa: ela foi baseada em outra composição chamada The Gael escrita por Dougie MacLean, um compositor escocês, e cujo crédito está devidamente dado nos cds da trilha sonora. Confira abaixo a música original.
É uma composição bem mais minimalista e, como próprio nome diz, ela bebe diretamente nos acordes e harmonias das músicas celtas (os galeses eram um povo de origem celta). O que Jones e Edelman fizeram foi reconstruir a música com o violino como instrumento regente, deixando-a mais poderosa, rápida e - por que não dizer? - hipnotizante. Ao fazerem sua releitura, os dois ainda conferiram uma clara abordagem de música colonial norte-americana à peça.
A história poderia acabar aqui, mas não. Na verdade, MacLean também se baseou em outra composição para escrever The Gael. Ele foi buscar sua inspiração em Vivaldi, mais especificamente na composição chamada La Follia (sonata no. 12, op. 1, rv. 63). Confira:
MacLean reorganizou a composição de Vivaldi em acordes minimalistas, acrescentando a já mencionada típica harmonia da região de Gales, tornando La Follia uma melodia celta moderna ao usar seus aparelhos eletrônicos.
E se você acha que chegamos ao fim de nossa jornada musical, está errado: tem mais. Vivaldi também não compôs sua peça do nada. Na verdade, La Folia é uma composição folclórica que vem desde os tempos medievais e cujo nome do autor (ou autores) se perdeu nas brumas do tempo. Vários compositores criaram variações dela ao longo dos séculos e a de Vivaldi foi apenas mais uma entre elas. Eis a peça original abaixo.
Assim, Promontory é sem dúvida uma composição magnífica, mas tem uma linhagem ainda muito mais nobre: autores geniais se baseando em composições de outros autores geniais para produzir uma pequena obra-prima, todas se originando numa antiga composição medieval que, com o passar dos séculos, foi sendo enriquecida e engrandecida com homenagens e releituras.
Promontory ganhou várias gravações de artistas pelo mundo desde seu lançamento. É possível encontrar diversas apresentações pelo youtube, mas selecionei duas das mais espetaculares. A primeira é com o grupo Circa Paleo. A linda e talentosa violinista do grupo se chama Jenny O'Connor e o vídeo abaixo é retirado do canal dela no youtube.
Por fim, a versão abaixo é executada pela Royal Scots Dragoon Guards, a guarda real escocesa, usando as famosas gaitas-de-fole. Ao menos a parte onde La Folia se tornou The Gael/Promontory voltou para casa. É de arrepiar e emocionar.
A Arte é imortal! Super bacana saber toda essa trajetória!
ResponderExcluirObrigado, Mara!
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